03/10/2020 | Ed_Antes, Edição AR105

A Irrigação e o sistema de gotejamento

Redação Agrimotor

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Com a irrigação se tornando fundamental para a agricultura moderna, este sistema é um dos componentes dos métodos de irrigação localizada.

Carlos Reisser Junior*

Não é somente em locais onde a chuva é insuficiente que a irrigação é necessária. Má distribuição de chuvas, produção em ambientes protegidos, aplicação líquida de adubos, são exemplos da necessidade de irrigação para atingir níveis de retorno econômico elevados na agricultura. A irrigação nem sempre tem como objetivo a máxima produtividade, mas sim usada para que o produtor rural tenha a maior lucratividade como seu cultivo e com os recursos hídricos existentes sejam usados de maneira sustentável.

Cada vez mais a irrigação está se tornando fundamental para atividades agrícolas modernas. O investimento elevado em tecnologias aumenta o custo da produção tornando elevado o risco de grandes prejuízos. A irrigação atua como um fator de segurança e multiplicador de produtividade devido a interação de sua prática com outras técnicas e também conforme o seu manejo.

O aumento da água para irrigação, pela sua importância, traz consigo o aumento de consumo e, em determinada região, pode competir com outros usos reduzindo sua disponibilidade levando até o desabastecimento.

Sistemas mais eficientes e manejo da técnica visando produzir o máximo com o mínimo, estão se tornando obrigatórios e o uso indiscriminado do recurso hídrico além de antieconômico está se tornando proibitivo ambientalmente.

Talvez devido a essas demandas atuais, com aumento de tecnologia e redução de custos, a adoção de irrigação localizada vem crescendo a cada ano. Esse é um sistema que nem sempre pode ser o melhor para todos os cultivos, porém, por preferência intuitiva, pode levar a erros na escolha do investimento em irrigação.

Emissores

Assim como a irrigação por micro aspersão, a por gotejamento se caracteriza por irrigação de alta frequência a baixo volume de água, permitindo que a umidade se restrinja a um volume de solo junto ao sistema radicular das plantas. Tem como elemento irrigante, um emissor de água gotejante, que pode ser inserido ou integrado durante a fabricação do tubo. Também tem em forma de fita onde o emissor é formado com a própria parede do tubo. Todos eles apresentam dispositivo (por exemplo um labirinto) que reduz a pressão da rede de distribuição permitindo que a água saia em forma de gota.

Figura 1. Tipos de gotejadores tipo fita e botão.

Vários são os modelos que servem para as várias necessidades dos produtores. A escolha do emissor depende de variáveis inerentes ao solo, cultivo, clima disponibilidade da água e do produtor. Relativamente ao solo, sua granulometria, condutividade hidráulica, topografia, são fundamentais para seleção. Relativo ao cultivo, extensão, demanda da cultura, sensibilidade à fatores bióticos, tamanho do sistema radicular e espaçamento da cultura, são fatores importantes. Com relação ao clima, demanda evaporativa da região. Com relação à água, quantidade e qualidade química e física são fundamentais. Com relação ao produtor, sua capacidade econômica e técnica são muito importantes para a escolha não só do emissor, mas na relação do equipamento e o manejo da água. A disponibilidade de energia é outro fator que define a escolha do método.

É claro que a relação entre a qualidade e o preço é variável e deve ser levantada junto ao mercado local para escolha. Sistemas mais complexos fornecem mais segurança e redução de mão-de-obra, mas são mais caros. Por outro lado, os mais simples são eficientes também, mas não para todas as condições e podem apresentar maiores dificuldades de manejo quando utilizado em áreas maiores. A durabilidade também varia e é relativa ao preço a ser pago.

Sempre que possível, independente do tipo do equipamento para irrigação por gotejamento, deve-se buscar uniformidade de vazão e baixa sensibilidade a variações no sistema, resistência às intempéries e ação de animais (especialmente roedores), resistência química, não obstruir facilmente, uniformidade na fabricação com matéria prima de qualidade, fornecimento de acessórios compatíveis na região, baixa perda de carga da tubulação e conexões, e custo adequado.

Vantagens

  • Redução da perda de nutrientes devido a modo de aplicação e lixiviação.
  • Eficiência de aplicação com manejo correto.
  • Pouca influência da topografia na instalação.
  • Pode ser usada água reciclada e não potável.
  • Fácil de manter a umidade do solo junto às raízes em capacidade de campo.
  • O tipo de solo não tem tanta influência na frequência de aplicação
  • Não causa erosão.
  • Reduz e controla o crescimento de plantas não desejadas.
  • Elevada uniformidade de distribuição com equipamentos de qualidade.
  • O custo de operação é menor que outros métodos.
  • Fácil adequação para uso de fertirrigação.
  • Reduz o desenvolvimento de doenças por não molhar as folhas.
  • Reduzida necessidade de energia quando comparada com outros métodos.

Desvantagens

  • Custo inicial maior que outros sistemas.
  • Redução da durabilidade dos canos quando expostos à radiação solar.
  • Necessidade de ótima filtragem para reduzir entupimentos.
  • Quando usado sob a superfície do solo é difícil a visualização da umidade.
  • Não adequado para molhamento da superfície do solo para práticas que exigem essa prática.
  • Necessita de processos de limpeza, enrolamento, e adequado armazenamento para reutilização quando necessário.
  • Devido a maior exatidão na aplicação necessita várias informações técnicas para manejo correto e não ocorrer redução de produtividade.
  • Deve-se ter cuidado quando usar o sistema para cultivos na fase de germinação de sementes.
  • Deve-se ter cuidado com o manejo de solos ou águas salinos, devido ao risco de aumento salinização superficial dos solos.
  • Podem sofrer danos de roedores e perfurações necessitando reparos imediatos.
  • Não pode ser usado para controle de geadas.
  • Necessita maior informação técnica do produtor para manejo correto, pois vários fatores como tipo de solo, planta clima, cultura, são necessários para um eficiente projeto e operação.

A irrigação por gotejamento a cada ano evolui como um dos métodos de maior crescimento devido as suas características de facilidade, eficiência de aplicação e redução do preço por unidade de área, determinando que a rentabilidade seja elevada e o benefício ambiental seja adequado aos padrões modernos atuais.

Figura 2. Distribuição horizontal e vertical da umidade do solo em sistemas de gotejamento.

*Carlos Reisser Junior é engenheiro Agrícola pela Universidade Federal de Pelotas (RS), mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e Doutror em Fototecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Realizou período de licença sabática na Universidade da California, Davis – USA no departamento de Plant Science. É especialista da EMBRAPA em Agronomia com ênfase em Agrometereologia.

e.mail: carlos.reisser@embrapa.br

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Há mais de 15 anos a revista Agrimotor apresenta os assuntos mais recentes do setor do Agronegócio nacional.
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